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ArchiMate Ágil: Arquitetura Intencional

Postado em 19 de ago. de 2020 por Antonio Plais

Originalmente postado por Marc Lankhorst*, no blog da BiZZdesign. – Tradução e adaptação autorizados

Em uma postagem anterior sobre como usar a linguagem de modelagem ArchiMate junto com o Scaled Agile Framework (SAFe), mencionamos brevemente a necessidade de modelar a intenção da empresa. Em um contexto Ágil, essa noção de intenção e arquitetura intencional é muito importante. Nesta postagem, gostaríamos de explorar um pouco mais sobre isso.

Abraçando a Mudança

As metodologias ágeis são baseadas na noção de abraçar a mudança em contraposição a seguir planos detalhados. O futuro é incerto, as necessidades dos clientes mudam, e também as condições externas em que a empresa opera, de forma que os planos que você cria precisarão ser alterados de qualquer forma. Esta incerteza aumenta quanto mais no futuro você olha. Isso implica que a direção de longo prazo da empresa deveria ser dada em termos bastante gerais ao invés de planos detalhados, uma vez que aqueles planos serão anulados pelo mundo mudando à sua volta.

Modelos de arquitetura, especialmente aqueles com uma visão de mais longo prazo, deveriam, desta forma, expressar a intenção ao invés do desenho detalhado. Esta intenção é usualmente bastante estável: a estratégia de uma organização não muda diariamente, e traduzir isto em ação é onde a arquitetura intencional entra no jogo. O papel principal dos arquitetos é transmitir esta intenção. Isto tem implicações importantes para a disciplina da arquitetura, com um impacto diferente dependendo do escopo do arquiteto.

Em primeiro lugar, a arquitetura de sistemas ou de software, que é a mais próxima de uma realidade que muda diariamente, necessita ser desempenhada pelos especialistas que estão diretamente em contato com aquela realidade, ou seja, os membros das equipes ágeis que estão realizando estes sistemas. E nós temos visto isso na prática. Os papéis clássicos dos arquitetos de software estão sendo cada vez mais desempenhados por membros mais experientes das equipes ágeis, ao invés de por especialistas separados. Este tipo de arquitetura é muitas vezes expressado em rascunhos e quadros brancos, ou mesmo em modelos UML simples (embora o uso da UML pareça estar em declínio sob a influência do desenvolvimento ágil). Este não é o grupo-alvo de usuários da linguagem ArchiMate, embora ocasionalmente ela possa ser útil aqui.

Expressando Arquiteturas de Solução em um Contexto Ágil

O próximo nível acima em escopo, a arquitetura de solução, é ainda bastante próximo das mudanças concretas, diárias, mas o seu escopo abrange (em geral) várias equipes ágeis. Neste nível, a arquitetura se torna mais preocupada com a coordenação entre as partes da solução, com conceitos como a Pista Arquitetural (Architectural Runway) do SAFe. Isso fornece uma espinha dorsal para o alinhamento das contribuições das equipes ágeis, para fazer com que todas as peças se encaixem em alinhamento com a intenção da empresa. Muitas vezes, uma solução como esta é definida para atender à uma capacidade específica da empresa.

Nesse escopo, modelos ArchiMate são instrumentos muito úteis. Expressar os principais elementos (ou seja, principais processos, serviços, componentes e elementos de dados) de uma Pista Arquitetural é geralmente mais fácil no ArchiMate do que em linguagens de modelagem mais detalhadas, como a UML ou o BPMN. Estas linguagens estimulam (e, algumas vezes, forçam) você a colocar mais detalhes do que você gostaria. Mais ainda, esses detalhes podem obscurecer a essência daquilo que diz respeito à arquitetura. O chamado Framework Central do ArchiMate – as camadas de Negócio, Aplicativo e Tecnologia – abrange conceitos úteis que fornecem o nível adequado de detalhes para expressar este tipo de arquitetura, onde a coordenação é essencial.

Adicionalmente, neste nível de solução nós já podemos, e queremos, expressar a intenção da arquitetura tanto quanto a construção das soluções. Por exemplo, a noção de ‘serviço’, que é central no desenho do ArchiMate, é intencional por natureza: ele expressa o que alguma parte da solução deveria fazer para o seu ambiente, ao invés de como isso será feito (nota: o termo ‘serviço’ está sujeito a várias interpretações. A noção de ‘serviço’ no ArchiMate é enraizada na terminologia de negócio, e não deveria ser confundida com, por exemplo, uma peça de código como em um microsserviço).

O conceito de Capacidade é outra noção intencional. Ela expressa o que uma empresa é capaz de fazer, ou quer ser capaz de fazer, ao invés de como ela faz isso. A figura abaixo, da nossa empresa fictícia mas realista, BiZZbank, fornece um exemplo. Nós vemos aqui a capacidade Percepções Comportamentais do Cliente e seus processos de negócio, sistemas e dados de suporte. Uma visão como essa poderia ser usada para coordenar as várias equipes que suportam os sistemas individuais para garantir que, por exemplo, eles usam os dados do cliente de forma correta, resolvam problemas de sincronização de dados, planejem mudanças e, em geral, garantam que os seus sistemas trabalham juntos para servir de forma ótima os processos e capacidades de negócio da empresa. Isso, naturalmente, é uma figura de muito alto nível, mas nós poderíamos ampliar isso nos processos ou aplicativos individuais e ver mais detalhes.

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Visão de solução de arquitetura para a capacidade Percepções Comportamentais do Cliente do BiZZbank

O Domínio Ágil e a Arquitetura Corporativa

Expandindo nosso escopo além das capacidades e soluções individuais, chegamos ao domínio das arquiteturas corporativas. É aqui onde a arquitetura intencional é mais importante. Precisamos expressar os efeitos desejados da arquitetura, como o valor que nós queremos entregar, as capacidades de negócio que nós queremos desenvolver, os princípios fundamentais que nós queremos aplicar, e as restrições que nós queremos cumprir. Mais ainda, é aqui onde os orçamentos são alocados e as iniciativas são priorizadas com base na direção estratégica da empresa e no retorno esperado para os investimentos.

Os conceitos de Motivação e Estratégia do ArchiMate são muito úteis para expressar este nível de intencionalidade. Conceitos como Parte Interessada, Motivador, Valor, Princípio, Capacidade e Curso de Ação permitem que você expresse o que a empresa quer atingir, onde ela quer ir, e quais os passos que ela pretende dar para chegar lá. É aqui que você expressa ligações entre a estratégia, o modelo de negócio e a arquitetura central subjacente da empresa.

Na figura abaixo, reusada de uma de nossas postagens anteriores, dá um exemplo simples de uma visão intencional como essa do BiZZbank, nossa empresa hipotética. Uma de suas metas estratégicas é aumentar significativamente suas receitas de banco digital por meio do foco no segmento dos Millennials. Para isso, ele objetiva desenvolver a experiência bancária digital do cliente #1 no mercado. Isso, por sua vez, requer várias capacidades e recursos. Uma destas capacidades é Analíticos do Cliente e, se nós mergulharmos nisso, encontraremos a já mencionada sub-capacidade Percepções Comportamentais do Cliente.

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Motivação, Estratégia, Capacidades e Recursos necessários para o BiZZbank

Agora, isso pode parecer uma visão um pouco técnica. Mas essa não é a única forma de mostrar modelos ArchiMate: você pode usar diferentes visualizações para os mesmos conceitos, tal como a análise SWOT abaixo, que é baseada no conceito ArchiMate de Avaliação. Esta á a análise que precedeu a formulação da estratégia mostrada na figura anterior. Com base nas avaliações mencionadas aqui, a Direção decidiu focar no segmento dos Millennials e desenvolver uma excelente experiência bancária digital para eles.

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Análise SWOT para o BiZZbank

Em postagens anteriores, e em vários outros lugares, nós intencionalmente contamos a história do BiZZbank de trás para frente, começando com as arquiteturas mais detalhadas e seguindo em direção à intenção de alto nível, uma vez que a maioria dos arquitetos está mais familiarizado com os conceitos centrais do ArchiMate. Na prática, naturalmente, a intenção deveria vir antes. Nas palavras do Gato Risonho, em Alice no País das Maravilhas: “Se você não sabe para onde está indo, qualquer estrada te levará até lá”.

Comunicando Arquiteturas

Uma vez que no desenvolvimento ágil a comunicação clara é mais importante do que a documentação detalhada, o uso de modelos deveria estar focado em expressar as ideias por trás da arquitetura ao invés dos detalhes de um desenho. Isso é uma grande adequação com os princípios por trás da linguagem ArchiMate. Desde o seu início, o ArchiMate foi desenhado como uma linguagem leve e significativa com o mínimo de sobreposições, direcionada para expressar a essência em vez dos detalhes de uma empresa. Seu foco na comunicação pode ser visto até mesmo na construção da linguagem, que intencionalmente imita a estrutura da linguagem humana com seus sujeitos, verbos e objetos, refletidos nos conceitos de estrutura ativa, comportamento e estrutura passiva do ArchiMate.

Agora, alguns podem argumentar que os símbolos do ArchiMate se parecem muito técnicos para audiências de fora da TI. A linguagem foi desenhada para se assemelhar a outras linguagens de modelagem com caixas, setas e ícones, para tornar mais fácil o aprendizado para qualquer um com alguma experiência de modelagem, e isso faz com que ela se pareça um pouco ‘técnica’. Mas a definição da linguagem também separa o conteúdo da visualização de um modelo, e enfatiza a importância de escolher pontos de vista orientados para as partes interessadas. O padrão, inclusive, descreve um mecanismo de pontos de vista para suportar a criação destes pontos de vista. No entanto, dado a amplitude das partes interessadas que estão por aí, não seria viável padronizar estes pontos de vista por si mesmos. Audiências diferentes precisam de exibições diferentes do conteúdo da arquitetura, desde simples listas até diagramas detalhados, e desde visões simples e coloridas, como a análise SWOT mostrada acima, até especificações formalmente precisas.

Como um exemplo, quando uma equipe ágil está envolvida no desenho de uma interação entre a organização e seus clientes, visualizações como Mapas de Jornada do Cliente podem ser muito úteis. Eles podem capturar onde uma jornada precisa ser melhorada, novamente focando mais na intenção do que na construção. Abaixo está um exemplo de um mapa como esse, de novo do nosso BiZZbank, mostrando o estado atual da jornada do cliente para pagamentos móveis e, claramente, que há muito a ser melhorado se eles querem atingir as suas metas estratégicas. Isso era parte da avaliação mostrada na análise SWOT, onde é dito “Falta de boa experiência digital”.

Tudo o que você vê aqui é expresso por meio de conceitos ArchiMate. Por exemplo, os círculos azuis que indicam os pontos de contato do cliente são modelados como serviços de negócio do ArchiMate, e os canais que você vê na forma de raias são modelados como interfaces de negócio. E, por trás disso tudo, existe, naturalmente, todos os tipos de processos e sistemas.

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Mapa da Jornada do Cliente para pagamentos móveis

Centralidade no cliente é muito importante atualmente, e tem um profundo impacto em todos os aspectos da sua empresa. Para garantir que todos estejam focados naquele alvo, visualizações como esta podem ser extremamente úteis para transmitir a intenção arquitetural; neste caso, fornecer uma experiência bancária digital ótima que melhore a jornada do cliente mostrada aqui.

Mais ainda, uma vez que estes tipos de visões não são meras figuras estáticas, mas partes de um modelo integrado, você pode realizar todos os tipos de análises transversais, ver os impactos das mudanças, priorizar os investimentos e avaliar o efeito sobre os seus clientes e a sua estratégia. Isso torna-os infinitamente mais úteis do que as típicas figuras estáticas construídas pelas pessoas que pensam que isso tem que ser feito no PowerPoint ou no Vision, porque de outra forma a sua audiência não vai entendê-los. Isso é um grave mal-entendido e subestima o que uma plataforma moderna de modelagem pode fazer.

Se você quer conhecer mais sobre como usar o ArchiMate em um contexto ágil, entre em contato. E se você quiser ver mais exemplos de como o Horizzon e o Enterprise Studio suportam visualizações avançadas da arquitetura como as mostradas acima, solicite uma demonstração.

* Mark Lankhorst é Gerente de Consultoria & Evangelista-Chefe de Tecnologia da Bizzdesign, empresa líder em ferramentas para modelagem da arquitetura corporativa, representada no Brasil pela Centus Consultoria.

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